segunda-feira, 25 de maio de 2009

Acadêmico (01)

O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO ADVERTE: NÃO ESTUDAR SINTAXE FAZ MAL AO TEXTO, de CCH

O estudo da análise sintática é um dos pontos fundamentais na formação de quem se pretende um usuário competente de sua língua. Duas das habilidades principais de uma pessoa culta repousam nas atividades de ler e de escrever, ações que podem caracterizar não só nossas carreiras profissionais, mas também nossa vida como cidadãos.

Ler ou escrever um texto é muito mais do que apenas compreender ou organizar palavras em frases e parágrafos. É algo que envolve um amplo mecanismo a partir do qual o pensamento e as pretensões comunicativas do autor se apresentam para reflexão e avaliação do leitor. Como se constroem esses textos? Com palavras, locuções, termos e orações – elementos que mantêm entre si um relacionamento interno que precisa ser coerente e estar de acordo com as normas prestigiadas pela sociedade letrada. Mesmo quando se pratica intencionalmente algum desvio de linguagem, ele precisa receber uma espécie de carimbo de “permitido” pelo público leitor.

A análise sintática é a análise das relações. Na estrutura da oração, estudamos as relações que as palavras mantêm entre si na frase. Essas relações são binárias: sujeito & verbo; verbo & complemento; núcleo & adjunto... A tradicional prática de exercícios voltados para o reconhecimento da função sintática de um termo nem sempre garante o real objetivo de sua aplicação. Não se pode dizer qual é a função sintática de um termo se não se encontrar o outro termo com o qual ele se relaciona. Ou seja, não se pode reconhecer que existe um objeto direto sem apresentar a “prova” (o verbo transitivo direto); não se pode afirmar que determinado termo é o agente da passiva sem que seu “parceiro” sintático seja revelado (o verbo na voz passiva). E assim sucessivamente com todos os termos da oração, pois cada um deles só tem a classificação que tem porque possui uma relação com outro termo – e cada uma dessas relações é única, e por isso são dez os termos da oração.

A sintaxe tem duas parceiras especiais. Uma é a semântica, a ciência do significado. Afinal, o entendimento de uma frase depende da sua estrutura e das sutilezas que envolvem a construção do sentido. Outra é a estilística (a ciência da expressividade), pois compete ao autor da frase fazer as escolhas sobre como será sua organização, a partir do repertório que a língua lhe oferece.

Entretanto, para o estudo da sintaxe do português, há um pré-requisito. Sintaxe e morfologia são assuntos interligados. Ter um bom conhecimento acerca das classes de palavras é fundamental para entender a estrutura de uma oração e de um período. Lembremo-nos, por exemplo, dos tempos de escola, quando estudávamos verbos, substantivos, adjetivos, advérbios – e suas significações, usos, flexões. Na construção de uma frase, o verbo é o elemento central; o substantivo é o núcleo de um termo; o adjetivo é o elemento periférico ou qualificador de outro; o advérbio, um determinante sobretudo dos verbos. Com isso, queremos enfatizar que o conteúdo aprendido nos estudos de morfologia precisa estar sedimentado quando se pretende estudar sintaxe.

Outro ponto muito importante diz respeito aos graus de complexidade e de expressividade de um texto, que se medem a partir de vários parâmetros. Um deles repousa certamente na observação da estrutura sintática de seus períodos e parágrafos. Por isso, o estudo da sintaxe é um dos caminhos para desvendar os mecanismos composicionais escolhidos pelo redator de um texto, sendo a nomenclatura e a fixação das regras básicas do relacionamento sintático apenas estratégias didáticas indispensáveis – embora não sejam o motivo principal do estudo.

Um texto coeso e coerente se organiza a partir de princípios lógicos, entre os quais se incluem os mecanismos relacionais, que partem de uma “relação-micro” como a que existe entre o núcleo de um termo e seu adjunto adnominal, passam por uma “relação-midi”, como a que nos mostra que uma oração é principal porque outra é sua subordinada, e se encerram numa “relação-macro”, que confirma por exemplo que uma redação escolar ou uma coluna de jornal teve começo, meio e fim – o que só acontecerá de fato se tiverem sido seguidas as regras elementares de adição, oposição, reiteração, substituição e conclusão, entre tantas outras regras que se baseiam em ampliações dos mecanismos primários expressos pelos conectivos, conjunções, pronomes relativos, pessoais...

Nesse caminho do “mundo-micro”, feito com o estudo geral da estrutura da oração, para o “mundo-macro”, estuda-se a estrutura do período (o “mundo-midi”), relembrando que a solidez de conhecimentos do “mundo-micro” é o novo pré-requisito. O domínio sobre o relacionamento que as orações mantêm entre si no enunciado será, então, o penúltimo estágio na busca pela posse do texto, o “mundo-macro”. Nele, tudo se repetirá em tamanho, forma e modelos maiores – mas nada muito diferente do que se tiver estudado desde as pequenas lições que nos ensinaram como se reconhece e se usa um verbo, um substantivo...

Afinal, um texto deve ter uma adequação gramatical compatível com as pretensões e intuitos de seu autor, que – se assim julgar pertinente – procurará atingir o nível de exigência da linguagem padrão praticada por escrito pela comunidade culta em se insere.

Fonte: Sintaxe: estudos descritivos da frase ao texto [com adaptações]: Ed. Campus, 2008.