terça-feira, 6 de outubro de 2009

Poesia (03)

QUESTÃO DE PONTUAÇÃO, de João Cabral

Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca)

viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política)

o homem só não aceita do homem
que use a pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive,
o inevitável ponto final.

Fonte: Poesia Completa.