DIA DE ESTREIA, de CCH
Em meu trabalho de professor de Língua Portuguesa já tive turmas de todos os tipos. Uma vez, porém, ao assumir aulas num curso de Jornalismo da UERJ, resolvi propor aos alunos uma tarefa que os motivasse de modo especial.
Era mais ou menos assim. Suponha que você foi convidado para assinar uma coluna numa revista semanal de informação, opinando sobre os temas relevantes da semana. Para inaugurá-la, você deverá redigir um texto com o título "Dia de Estreia".
Os resultados foram muito bons, tanto do ponto de vista de qualidade textual e jornalística quanto pela receptividade dos alunos. Criatividade, originalidade e boa expressão linguística foram a tônica nas "colunas" daqueles jovens que, hoje, com certeza, já devem estar muito bem encaminhados na carreira.
O professor agora vira aluno e se vê repetindo a tarefa. A diferença é que o veículo é outro e estou dispensado – mas não proibido – de comentar os assuntos mais "quentes" do noticiário recente.
É certo também que meu ofício de professor de Língua Portuguesa dá a esta seção uma certa marca de responsabilidade didática ou pedagógica, mas quero combinar uma coisa com os leitores, em especial num "Dia de Estreia". Reconheço que o compromisso existe e será por mim observado.
Só que não tenho nenhuma pretensão doutrinária. Nossa conversa não será a de um consultório, não darei receitas nem ditarei regras. Se Vila Isabel é um berço do samba, imagino que a coluna do blogue deste vilisabelense pode ser vista como uma "Conversa de Botequim" por escrito. Neste bar, os fregueses gostam de refletir sobre a língua portuguesa, sobre os fatos e usos desta língua companheira.
Opinar... nada mais do que isso. Lembrar, por exemplo, que falar e escrever são práticas de características bem diversas e que as pessoas se expressam de modos variados conforme as situações e contextos em que se encontram. Aliás, não temos apenas uma língua falada, como não existe apenas uma língua escrita.
Reparem, por exemplo, como há diferenças na língua oral usada nas entrevistas da televisão. Ela varia de acordo com o perfil do programa, do entrevistador ou do canal. Bóris Casoy, Jô Soares, Serginho Groisman ou João Gordo? Qual a língua falada que combina mais com você? É ela a única forma de comunicação oral que você pratica?
Somos multilíngues em português brasileiro. E, de vez em quando, ainda precisamos ser poliglotas também na lusofonia. Afinal, uma nação de mais de 170 milhões de habitantes tem muito a fazer no cenário das comunidades de língua portuguesa, não?
Fiquem bem!
Fonte: publicado no Jornal de Vila Isabel (n. 320), em setembro de 2003.