TRÊS CRONISTAS CONVIDADOS: turma da UERJ, janeiro de 2010
Compartilho com vocês um trabalho que propus aos meus alunos do quarto período de Língua Portuguesa da UERJ (turma de 2009-2). Eles deveriam redigir uma crônica linguística sobre um tema qualquer de MORFOLOGIA do português, assunto de nosso curso. O limite era uma página.
As três crônicas publicadas abaixo foram selecionadas pela turma de 29 alunos para reprodução neste blogue. Estão na versão final, ajustada após pequenos retoques, seguindo as orientações que dei para a redação do texto definitivo.
Leiam... aproveitem... comentem!
O XARARÁ DO XERERÉU (por Ariane Oliveira de Sousa)
A caminhada acadêmica é sempre uma caixinha de surpresas. Durante os primeiros anos da graduação, há momentos vividos em sala de aula que são especialmente marcantes. Eu os divido em duas principais categorias: aqueles em que seu “vasto” conhecimento de ensino médio é totalmente desconstruído e você fica com uma sensação de Maysa (“meu mundo caiu”), e aqueles em que você se surpreende e fala “nossa, como não pensei nisso antes?!”. Nessa minha não tão longa jornada de quatro períodos da graduação, já passei por muitos desses episódios, mas há um que merece destaque.
No segundo período, certa professora de linguística, que já não precisa de muito esforço para marcar qualquer aluno, apresentou a seguinte frase para que fizéssemos a análise sintática: O xararativo xarará do xereréu xararou o xiriri do xororó xararativamente. Num primeiro momento, pensamos “Pronto, enlouqueci de vez!”, mas depois percebemos certas coisas para as quais, até então, não tínhamos dado conta.
Ora, como saber a que classe gramatical pertencia e que função exercia a palavra “xarará” se ela não existe no léxico da língua portuguesa? Mesmo sem ter estudado estrutura e formação das palavras, fomos capazes de responder a questões como estas: “xararativo” é adjetivo; “xararou” é verbo; “xararativamente” é advérbio; “xarará”, “xereréu”, “xiriri” e “xororó” são substantivos. Éramos gênios da morfossintaxe! Tudo bem... nem tanto... eu sei. O importante é que, mesmo sem conhecimentos morfológicos mais específicos, conseguimos fazer a análise, principalmente por sermos falantes nativos da língua portuguesa. Fomos capazes de supor que do verbo “xararar” poderia surgir o adjetivo “xararativo”, que daria origem ao advérbio “xararativamente”, por exemplo.
Afinal, como isso acontece? Agradeça aos morfemas de nossa língua! Naquela frase, voltamos nossa atenção para os sufixos, que têm a capacidade de modificar o significado do radical a que são acrescidos. Uma de suas principais características é mudar a classe gramatical das palavras, pois também podemos dizer que eles contêm uma significação externa. O sufixo -(t)ivo transforma um verbo em adjetivo; -mente, um adjetivo em advérbio de modo. Além disso, a posição que as palavras ocupam na oração também pode ser um indicativo de sua classe gramatical. Dissemos que “xarará” é substantivo, pois funciona como sujeito da oração. Do contrário, poderia ser também um verbo conjugado no futuro do presente do indicativo, com desinência modo-temporal -ra tônica e vogal temática -a. Concluímos, então, que são os morfemas os principais culpados pela formação de novas palavras, mantendo e renovando o léxico de nossa língua.
E assim seguimos a nossa caminhada. Mais experientes? Xararativamente! Mas sempre esperando novas surpresas xararativas. Afinal, se não fosse assim, que graça teria?
DESABAFANDO SOBRE O CASO DA EPONÍMIA (por Felipe Araujo Gomes)
No começo de 2009, uma polêmica foi criada em torno do uso de gírias gays por uma das personagens do cartunista Maurício de Souza, na quarta edição em quadrinhos de “Turma da Mônica Jovem”. As expressões “tô passada!”, “a louca!”, “abafa o caso!”, “se joga!”, “dar o truque”, “uó” foram ditas por Denise – jovem descolada, influenciada pela cultura clubber, antenada com o mundo atual – e provocaram a desaprovação de alguns leitores e de parte da crítica.
Conquanto a adoção de características ou temáticas do universo gay acarrete discussões passionais no âmbito da literatura infantil, em outros seguimentos da arte e da mídia, a cultura LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) conquistou espaço e força ao longo das últimas décadas. O escritor, jornalista e dramaturgo Caio Fernando Abreu (1948-1996) imprimiu na juventude de toda uma época corajosas concepções sobre a sociedade de seu tempo, utilizando em seus textos uma linguagem ousada e original, impregnada de neologismos e gírias, para falar abertamente sobre homossexualidade, sexo livre, drogas, solidão. Ainda hoje as expressões criadas por Caio são correntes e conhecidas por seus leitores dos mais variados tipos. Entre as mais reproduzidas estão “lasanha”, para designar rapaz muito bonito, e “jacira”, para se referir a homossexual escrachado, de baixo nível social.
Como “jacira”, algumas gírias se formam a partir da conversão de substantivos próprios em substantivos comuns. “débora kerr” e “betty faria” são exemplos desse processo. Talvez o mais disseminado de todos seja a expressão “elza”, significando furto. Segundo o jornalista Victor Ângelo, autor de Aurélia – A Dicionária da Língua Afiada, dicionário que traz 1.300 verbetes usados pelo universo gay, a expressão “dar a elza” teria origem num antigo boato corrido entre travestis cariocas afirmando ser a cantora Elza Soares uma cleptomaníaca “glamourosa” (num estilo Winona Ryder)! Esse processo de “coisificação” através do qual nomes de pessoas passam a ser tomados como substantivos comuns, que denominam significações sem palavras próprias que as expressem ou às quais se deseja atribuir novos significantes, trata-se de um neologismo semântico e é conhecido como eponímia. Cabe ressaltar que os epônimos não são exclusividade do vocabulário LGBT. O substantivo “gari”, por exemplo, é uma homenagem ao francês Aleixo Gary, empresário que se destacou na história da limpeza da cidade do Rio de Janeiro, no século XIX, bem antes dos “babados” de nossa época.
Entretanto, antes de provocarem polêmicas ou caírem no gosto popular, as gírias gays praticadas pela personagem Denise existem há mais tempo do que se imagina (ainda que ninguém desconfiasse disso na década de 1990) e, hoje, além de enriquecerem com muito humor nossa forma de nos comunicarmos, são interessantes exemplos para o estudo dos processos de formação de palavras.
GERUNDIANDO (por Jacqueline dos Santos Fernandes)
“Vou estar enviando”, “Vou estar retornando”, “Vamos estar registrando”. Provavelmente, você já ouviu essas pérolas de algum operador de telemarketing.
Se algum deles lhe falar que vai estar providenciando o seu pedido, esqueça! Ou espere deitado. Hoje em dia, ninguém envia mais nada, vão sempre estar enviando. Ninguém retorna sua ligação, vão sempre estar retornando. Ninguém registra nada, vão sempre estar registrando.
Gerundismo é o nome dado ao uso indiscriminado do gerúndio para indicar uma ação momentânea. Por conta disso, há quem queira abolir da língua portuguesa o gerúndio, como aconteceu com o governador do Distrito Federal, que “demitiu” o gerúndio de todos os órgãos do seu Estado. Enquanto isso, escolas sem infraestrutura, sem alimentação para as crianças são só pequenos detalhes da realidade de sua cidade – temas certamente menos importantes do que sua cruzada contra o gerundismo.
Relembrando: gerúndio é a forma nominal do verbo terminada em “ndo” que indica continuidade da ação: cantando, beijando, abraçando, escrevendo, gerundiando.
Dizem que o gerundismo na nossa língua foi importado da língua inglesa. Teria surgido de traduções mal feitas de frases como “We will be sending”, que acabou virando “Nós vamos estar enviando”. O gerundismo, dessa forma, não passaria de um mero modismo para inglês ver. Contudo, o Ministério da Saúde adverte: “A diferença entre remédio e veneno é a dose”. E o mal da superdosagem não é culpa da dose, porém de quem faz mau uso dela e exagera.
“Caminhando e cantando”, o gerúndio continua vivo, resiste! É enorme a lista dos seus usos aceitáveis: concessivo, explicativo, modal, causal, temporal, condicional. Como cantou Gilberto Gil, o bom gerúndio, como o Rio de Janeiro, “continua lindo, continua sendo...”.
Fonte: Instituto de Letras, UERJ, 2009.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Dica de Ortografia (03)
Dica de Ortografia (02)
EMPREGO DO HÍFEN (II)
Eis a tabela de emprego do hífen em palavras começadas por ANTEPOSITIVOS (também chamados prefixoides ou pseudoprefixos). Está atualizada pelo que diz o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras.
É a mesma que acompanha a quinta edição do livro "A Nova Ortografia". Se o seu livro é anterior, basta substituir esta tabela.
CLIQUE NA IMAGEM E IMPRIMA.
Dica de Ortografia (01)
EMPREGO DO HÍFEN (I)
Eis a tabela de emprego do hífen em palavras começadas por PREFIXO. Está atualizada pelo que diz o Vocabulário Oortográfico da Academia Brasileira de Letras.
É a mesma que acompanha a quinta edição do livro "A Nova Ortografia". Se o seu livro é anterior, basta substituir esta tabela.
Eis a tabela de emprego do hífen em palavras começadas por PREFIXO. Está atualizada pelo que diz o Vocabulário Oortográfico da Academia Brasileira de Letras.
É a mesma que acompanha a quinta edição do livro "A Nova Ortografia". Se o seu livro é anterior, basta substituir esta tabela.
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